Pesquisa da UFSC mostra que plástico PET intoxica microcrustáceo na base da cadeia alimentar

11/03/2025 12:21

Um estudo conduzido no Laboratório de Toxicologia Ambiental (Labtox) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou que o descarte inadequado de garrafas PET pode causar uma série de efeitos tóxicos em um pequeno crustáceo de água doce, a dáfnia. Por meio de testes em laboratório, os pesquisadores mostraram que a degradação do PET na água causa danos em células e mitocôndrias e afeta a reprodução, a alimentação e a locomoção desses animais, que estão na base da cadeia alimentar. Os resultados foram publicados na revista científica internacional Science of The Total Environment e fizeram parte da pesquisa de doutorado de Bianca Vicente Costa Oscar, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental.

“Pela literatura, a gente já sabe que os materiais plásticos, quando são liberados na água, sofrem fragmentação e liberam compostos químicos. Só que até que ponto essa fragmentação, cada vez em pedaços menores, interfere no organismo dos animais? E até que ponto esses compostos que o PET libera interferem também na vida do animal?”, questiona Bianca.

O animal escolhido para os testes foi a dáfnia (mais especificamente a espécie Daphnia magna), um microcrustáceo que pode chegar a cinco milímetros de comprimento. Elas vivem em água doce e se alimentam de partículas finas de matéria orgânica em suspensão, incluindo leveduras, bactérias e microalgas. Por outro lado, servem de alimento a peixes e diversos outros animais aquáticos. Então, qualquer impacto na população de dáfnias pode desequilibrar toda a cadeia alimentar. 

“Por conta dessa importância ecológica, no mundo todo, em qualquer laboratório que trabalha com ecotoxicologia, a dáfnia é utilizada como um excelente modelo ecotoxicológico”, afirma o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental William Gerson Matias, coordenador do Labtox e orientador de Bianca no doutorado.

Microcrustáceo Daphnia magna pode chegar a cinco milímetros de comprimento. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Degradação e contaminação

Para simular o que acontece com plásticos PET jogados na água, os cientistas cortaram uma garrafa de refrigerante em vários pedaços, que foram colocados em um recipiente com água e expostos, por 24 horas, a uma lâmpada que simula a radiação solar. Os experimentos, que utilizaram também a estrutura multiusuários da UFSC, principalmente o Laboratório Central de Microscopia Eletrônica (LCME), comprovaram que, quando exposto ao sol, o PET libera uma série de compostos químicos na água, com destaque para o antimônio. Tóxico se ingerido ou inalado, o antimônio é um elemento químico amplamente utilizado nas garrafas PET – além de acelerar o processo de fabricação, ele também funciona como retardador de chamas.

Imagens feitas em microscópio demonstram fotodegradação do plástico PET. A primeira, às 0h, mostra a estrutura do plástico antes de ser degradado. A última mostra como ficou a estrutura após 24 horas de exposição à água e à luz

Um grupo de dáfnias foi mantido nessa água, cheia de antimônio e outros compostos liberados pela degradação do PET, por 21 dias. Isso permitiu que os cientistas constatassem uma série de efeitos tóxicos decorrentes da exposição crônica aos subprodutos do plástico.

Entre outros problemas, foram observados rompimento de membranas celulares e danos nas mitocôndrias – responsáveis pela respiração celular –, nos tecidos e nas estruturas responsáveis pela locomoção e pela alimentação. Os pesquisadores também notaram que elas nadavam menos e os batimentos cardíacos ficaram mais fracos, bem como mudanças nos movimentos torácicos, em parâmetros de estresse oxidativo e nos padrões de reprodução.

“Elas geraram uma quantidade muito menor de filhotes, e a primeira ninhada dessas dáfnias foi muito mais cedo. Então, as dáfnias que não estavam expostas a esse líquido da degradação geraram filhotes em 14, 15 dias. As dáfnias que foram expostas geraram em 6, 7 dias. E houve a diminuição da quantidade de filhotes também. Se antes demorava 14 dias, e na primeira ninhada a dáfnia soltava 10, 15 filhotes, ela começou a soltar 1, 2, 3, e muitos nem sobreviviam”, relata Bianca.

Efeitos na geração seguinte

Os cientistas também fizeram testes em filhotes dessas dáfnias. Expostos aos contaminantes durante o período embrionário, ao nascer, eles foram colocados em um recipiente com água limpa, livre das substâncias resultantes da degradação do PET. O objetivo era fazer um teste de recuperação, “para ver se esses organismos conseguiam se recuperar depois de tudo isso que as mães passaram, e que eles passaram também na forma embrionária”, explica a pesquisadora.

Apesar de efeitos tóxicos permanecerem na nova geração, foi possível perceber melhorias em alguns dos parâmetros analisados, o que indica um processo de recuperação. Os filhotes apresentaram melhora considerável na frequência cardíaca e na movimentação dos membros torácicos. Por outro lado, problemas reprodutivos e de locomoção se mantiveram, “demonstrando que os efeitos tóxicos do PET envelhecido atingiram gerações subsequentes de D. magna exposta e ameaçaram a manutenção desta espécie”, informa o resumo elaborado pelos cientistas.

Trajetórias médias de natação das dáfnias das gerações P (mães) e F1 (filhotes). A primeira coluna mostra a movimentação dos animais do grupo-controle. A segunda mostra como a exposição aos subprodutos do PET impactou a distância percorrida pelos animais, afetando inclusive os filhotes

“Na minha opinião, esse é um dos melhores papers [artigos científicos] desenvolvido dentro da nossa equipe. Um paper com resultados importantes, porque aborda um processo de degradação de um elemento tão utilizado pela gente, que é o PET. E esse produto de degradação influencia as vidas que têm contato com ele”, enfatiza o professor William.

Labtox e contaminantes emergentes

William Gerson Matias é professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e coordenador do Labtox. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Desde sua criação, em 1997, o Labtox desenvolve pesquisas com contaminantes emergentes – aqueles que não têm ainda uma regulação e que não costumam ser monitorados ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água. No início, o foco eram as toxinas marinhas que afetam a maricultura, mas os trabalhos foram se diversificando com o tempo.

Em 2010, tiveram início os estudos com nanopartículas metálicas, em cooperação com a Universidade do Quebec em Montreal (UQAM). “Isso nos possibilitou durante muitos anos colaborar com o processo de regulação dessas novas tecnologias”, afirma William.

Atualmente, o grupo se dedica a estudar a toxicidade de contaminantes diversos, incluindo plásticos, medicamentos, agrotóxicos, protetor solar e drogas ilícitas. Procura entender, também, o que acontece quando esses diferentes contaminantes se misturam – afinal, nenhum deles está sozinho no ambiente. A ideia é que os estudos apoiem iniciativas de regulação e ajudem a estabelecer os limites seguros dessas substâncias.

As atividades devem ganhar força com a criação do Instituto Multidisciplinar de Apoio à Regulação de Contaminantes Emergentes (Imarce). Proposto pelo Labtox e aprovado pela Câmara de Pesquisa da UFSC em 2024, o instituto conta com o apoio da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e da UQAM.

“Todas essas instituições fazem parte desse contexto para induzir um processo de regulação. Como é realizada a regulação? Ela é realizada com as pesquisas desenvolvidas pelos laboratórios do mundo, e, quando há necessidade, um grupo se reúne e pega o que está publicado para tentar estabelecer os limites confiáveis. O instituto está aqui para catalisar esse processo”, ressalta o professor.

Os trabalhos do grupo podem ser acompanhados no site do Labtox e no Instagram.

Matéria divulgada na Agência de Comunicação | UFSC

 

PROGRAMA BRAFITEC/CAPES – Ano 2025 – Projeto InATEc Engenharia da Água Para a Transição Ecológica

10/02/2025 15:13

Programa de Intercâmbio Universitário em Parceria com Universidades Francesas.

BOLSAS PARA INTERCÂMBIO – Período: Setembro 2025 até julho 2026

4 BOLSAS DE 6 A 12 MESES

 

DOS AUXÍLIOS:

  • auxílio mensal de: € 870,00;
  • auxílio instalação: € 1.300,00 (parcela única);
  • auxílio para seguro saúde: até mensalidade de € 90,00;
  • passagem aérea de ida e volta em classe econômica (€ 950,00).

UNIVERSIDADES FRANCESAS PARTICIPANTES DO PROJETO:

  • École Nationale Supérieure d’Ingénieurs de Poitiers (ENSI Poitiers);
  • École Nationale Supérieure d’Ingénieurs de Limoges (ENSIL-ENSCI);
  • École Nationale du Génie de l’Eau et de l’Environnement de Strasbourg (ENGEES) : (acordo de duplo diploma com ENS/UFSC).

OBS: Os alunos poderão indicar a instituição de destino de preferência. No entanto, a decisão sobre as instituições de destino caberá à Comissão Organizadora do Programa/Projeto (lado brasileiro e francês).

 

CONDIÇÕES MÍNIMAS PARA PARTICIPAÇÃO:

  • Ser aluno de graduação do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, matriculado regularmente entre a 6ª a 8ª fases do curso e tendo entre 40 e 80 % do curso concluído (equivalente em carga horária); e serão admitidas vagas de reserva para os cursos de Graduação em Engenharia Civil e Produção Civil, campus Florianópolis, para as Instituições de Ensino Superior associadas da França;
  • Possuir um IAA igual ou superior a 7,0;
  • Ter obtido nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) igual ou superior a 600 pontos, em exames realizados a partir de 2009 (caso o candidato(a) tenha realizado mais de um exame durante este período será considerado o de maior pontuação, segundo informação prestada pelo INEP);
  • É vedada a indicação de discente para a missão de estudos que tenha sido agraciado anteriormente com bolsa de estudos no exterior, em mesmo nível acadêmico ou no mesmo Programa, com financiamento por agência nacional pública de fomento;
  • Comprovar o nível de proficiência em língua francesa, em um dos testes apresentado pela CAPES.

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO:

Os alunos que atenderem às condições mínimas para participação serão classificados em função de seu desempenho acadêmico que inclui:

1) Média do histórico escolar (50%);

2) Exame do C.Vitae (10%);

3) Carta de motivação (10%);

4) Nota no Enem (10%);

5) Proficiência comprovada no ato da inscrição (20%);

Os 7 melhores classificados poderão ser chamados para uma arguição com a banca avaliadora;

Os 4 melhores classificados terão seus nomes encaminhados para aprovação pelas instituições convenientes;

Para esta seleção uma comissão avaliadora será chamada pelo coordenador do projeto;

O teste de idioma tem caráter classificatório e eliminatório.

Os 4 alunos selecionados na UFSC terão seus nomes indicados para aprovação da CAPES para receberem a bolsa.

INSCRIÇÕES:

Enviar toda documentação exigida até dia 27/03/2025 por e-mail a bruno.segalla@ufsc.br com assunto BRAFITEC_ENS_UFSC_NomedoCandidato, com solicitação de recebimento

DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA PARA INSCRIÇÃO:

  • Ficha de inscrição para Programa BRAFITEC ENS 2025 (modelo anexo);
  • Carta de motivação em português e francês;
  • Curriculum vitae resumido em uma página em português e francês;
  • Cópia do documento de identidade;
  • Registro ORCID (https://orcid.org/);
  • Plano de Atividades (conforme modelo em anexo) preliminar,
  • Telefone e e-mail para contato;
  • Comprovar o nível de proficiência em língua francesa, em um dos testes abaixo, ou comprovante de inscrição no teste de proficiência*:

Para língua francesa serão aceitos os testes a seguir, com as respectivas notas mínimas e validade:

  • I – TCF (Test de Connaissance du Français) TP: nível B1, no mínimo, nas provas obrigatórias (resultado global), com validade de dois anos;
  • II – TCF CAPES: nível B1, com validade de dois anos; ou
  • III – DELF (Diplôme d’Études en Langue Française): mínimo de B1, sem prazo de validade; ou IV – DALF (Diplôme Approfondi de Langue Française): mínimo de C1, sem prazo de validade.

Obs: *caso a proficiência não seja comprovada até o momento de indicação do bolsista a CAPES, o mesmo será desclassificado.
DEMAIS DATAS (sujeitas a alterações):

Lançamento de edital: 10/02/2025;

Pré-seleção: 1 a 4/04/2025;

Divulgação do resultado: 07/04/2025 até as 18:00 h.

OUTRAS INFORMAÇÕES:

 Prof. Maurício L. Sens e Prof. Bruno Segalla Pizzolatti (coordenadores do projeto InATEc)

Observação Importante:

O Teste de Proficiência deverá, obrigatoriamente ser proveniente da Aliança Francesa ou Centro de Línguas da IES brasileira e conter nota mínima de proficiência em língua francesa como B1, a ser apresentado no ato da inscrição. Bolsistas que apresentarem teste de proficiência com as notas abaixo de B1 (são elas: A1 e A2) serão indeferidos do processo pela Capes.

Como comunicado anteriormente, todas a concessões serão feitas com início da bolsa em setembro/2025, podendo o bolsista chegar na França com um máximo de 30 dias de antecedência.

Ficha de inscrição

Plano de Atividades